segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

MANIA DE LIMPEZA ABALA COTIDIANO



Uma das manias que mais afetam o relacionamento familiar é a de limpeza. Pessoas, principalmente mulheres, que dedicam todo o seu tempo para limpar as janelas, portas, vidros, lustrar móveis, lavar chão, podem estar perdendo o controle, com algum descuido em suas vidas que podem indicar doença.

A psicóloga e psicoterapeuta Olga Inês Tessari aponta que o problema está na pessoa, pois, por mais que se busque a perfeição, “jamais chegaremos a ela, pois a perfeição é uma ilusão”. No máximo, o que ela irá conseguir é ficar ainda mais nervosa, pois, para manter a casa arrumada e limpa sempre ninguém haveria de morar nela, sem contar o problema da poeira tomar conta após algum tempo sem ninguém para tirar o pó.

“É saudável querer manter a casa limpa, mas quando a limpeza se torna a prioridade do dia a dia em detrimento de outras atividades, aí se torna um problema”, diz

COTIDIANO AFETADO

Tessari alerta que a mania pode complicar o cotidiano de quem a possui, quando a pessoa deixa de viajar ou de fazer um passeio para fazer faxina, não dá atenção à família, ou mesmo não convive com outros por causa da necessidade de manter tudo limpo, mesmo que a casa já esteja desta forma.

Ela relata um exemplo vivido em seu consultório, por uma paciente que possuía o hábito de limpar as portas da casa várias vezes ao dia, principalmente quando alguém (amigos ou não) as tocava com as mãos.

A mulher acreditava que se não limpasse de imediato, vírus e bactérias invadiriam sua casa e trariam doenças. Ela nem dava atenção à visita, direcionando seus olhos para as portas “sujas”, refletindo se ainda daria tempo de limpá-las e evitar que as bactérias dominassem o ambiente.

“Vale dizer que, por não dar atenção às pessoas, elas acabavam por se afastar do convívio e esta senhora se queixava da falta de amigos, de que ninguém lhe dava atenção, embora ela mesma fosse a causadora deste afastamento”, conta Tessari.

PROBLEMAS SÃO MAIS PROFUNDOS

A mania de limpeza não é perceptível para quem a possui, já que sua ação é feita de forma inconsciente. Ocorre que, na verdade, a mania não passa de uma forma da pessoa esconder seu verdadeiro tormento, apontando para a limpeza sua única tarefa, fugindo das dificuldades cotidianas.

E quem nos fala com mais propriedade sobre o assunto é a psicóloga e psicoterapeuta Olga Inês Tessari, que explica até que ponto as pessoas que costumam manter sua casa limpa podem estar próximas de doentes ou não.



PRINCIPAIS TRECHOS DA ENREVISTA

Repórter – A pessoa que tem mania de limpeza pode ser caracterizada como doente?

Olga Tessari: Nem sempre se pode considerar doente uma pessoa com mania de limpeza. O problema é a intensidade desta limpeza, quanto tempo de sua vida a pessoa gasta com esta limpeza e se ela sempre prioriza a limpeza em detrimento de outras atividades, ou seja, se ela praticamente vive em função de manter tudo limpo.

Repórter – Esta mania pode estar ligada ao Transtorno Obsessivo Compulsivo?

Olga Tessari: As obsessões e compulsões são comportamentos decorrentes da elevação da ansiedade em níveis acima do normal e aceitável. A pessoa descobre/percebe que o ato/ritual de limpar alivia os sintomas de sua ansiedade de imediato e passa a limpar e limpar no sentido de manter este alívio ou de evitar que sua ansiedade se eleve novamente.

Pessoas que sofrem do Transtorno Obsessivo Compulsivo, em geral, costumam ser negativas, culpam-se por tudo o que acontece de errado, pensam que só elas são capazes de fazer o melhor, buscam a perfeição e não admitem errar, vivem preocupadas com a opinião alheia, tem medos e uma ansiedade elevadíssima.

Repórter – Qual o papel dos parentes que perceberem algo semelhante em sua família?

Olga Tessari: A família acaba por ficar muito irritada com essa mania de limpeza, pois sente-se limitada em seu próprio espaço (por causa de frases como: “não suje”, “cuidado, não derrube migalhas”, “eu já não falei que não quero que você ande aqui porque vai sujar?”, “acabei de limpar, que coisa!” etc…), o que pode gerar conflitos, brigas e um clima muito ruim na convivência. De nada vai adiantar ficar brigando com ela, mostrando a “irracionalidade” do comportamento dela, até porque, como diz o ditado, “santo de casa não faz milagre”. A família deve entender que esta pessoa tem problemas que não consegue resolver sozinha e que precisa de ajuda especializada para sair deste círculo vicioso em que entrou e a melhor maneira de ajudar esta pessoa é levá-la para uma avaliação psicológica e posterior tratamento.

Repórter – Que tipo de orientação pode ser dada para que a pessoa saiba dosar isto com prudência, fazendo a limpeza normal sem tornar isso uma paranóia?

Olga Tessari: Querer ter uma casa em ordem, limpa e arrumada é um desejo de todos nós e que nos traz prazer e satisfação. Mas deixar de viver a vida em função de manter uma casa limpa, deixar de aproveitar momentos únicos por causa da “obrigação da limpeza” é sinal de que a pessoa não está feliz e de bem consigo mesma. É muito importante cuidar de si mesma em primeiro lugar e buscar outros prazeres além do prazer da casa em ordem. Isso me faz lembrar de uma senhora que se atrasou ao fazer o jantar e que foi lavar a louça suja antes de assistir ao último capítulo da novela que acompanhou desde o início. Pediu aos familiares que a avisassem quando a novela iria começar, mas estes mudaram de canal até porque a novela ainda não havia começado. Quando ela terminou toda a limpeza da cozinha, foi para a sala, sentou-se no sofá e percebeu que aquele não era o canal em que sua novela era transmitida. Pediu para mudarem para o canal que transmitia a novela e percebeu que ela já havia acabado! Ou seja, há momentos na vida em que temos que priorizar outras coisas em detrimento da limpeza, pois eles passam e podemos deixar de vivê-los!

Publicada originalmente no site do Padre Marcelo

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